Ed Motta não é o único: pouca gente sabe o que é Hip Hop, Pagode ou conhece Ogum..
Polêmica em torno de vídeo com declaração do sobrinho de Tim Maia deveria gerar reflexão sobre o desconhecimento sobre cultura negra no País
A polêmica declaração de Ed Motta sobre o Hip Hop expôs uma ferida que já vinha sangrando há algum tempo na cultura brasileira.
E, neste caso, é impossível não incluir o desconhecimento dos próprios negros.
E depois de milhares críticas de rappers e intelectuais negros, Ed Motta se arrependeu das críticas que fez ao movimento cultural e politico.
Na terça-feira (18/6) — pouco antes do fechamento desta newsletter — o músico foi ao seu perfil no Instagram e pediu desculpas à comunidade Hip Hop: “Eu errei feio”.
Hip Hop não é musica!
Além do músico, a maior da população — e grande parte do universo do jornalismo brasileiro — desconhece o que é o Hip Hop; o que é candomblé; o que é umbanda; o que é pagode e — mais além — o sincretismo religioso que fundiu as datas de celebração (e imagens) de Ogum e São Jorge.
A história é complexa. Apesar de terem data celebrativa no mesmo dia e no mesmo mês (23 de abril): Ogum não é São Jorge; e São Jorge não é Ogum.
Ogum não é São Jorge!
Ogum é uma divindade africana do candomblé e umbanda, associado à guerra, ao ferro e à tecnologia. São Jorge é um santo cristão, conhecido por matar um dragão — e é venerado na Igreja Católica e na Ortodoxa.
São Jorge é o 2º santo mais popular do Brasil. O santo — que é seguido e adorado por personalidades como o cantor/compositor Jorge Benjor — só perde em popularidade para Nossa Senhora Aparecida, que ocupa 1º lugar.
A partir do sincretismo [imposição do catolicismo pelos portugueses sobre as populações indígenas e africanas escravizadas] houve uma “fusão” forçada entre entidades de religiões distintas.
O orixá Ogum foi sincretizado com São Jorge. Oxóssi com São Sebastião; e Iemanjá com Nossa Senhora da Conceição [leia quadro abaixo].
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O sincretismo foi o modo do Brasil branco permitir — de jeito escamoteado — que os africanos mantivessem sua espiritualidade e tradições religiosas, mesmo em um ambiente hostil e repressivo do Brasil escravocrata.
Vale a leitura do livro “Axé, Amor, Amém”, de Claudio Soares e Tuila Jost (Editora Afluente).
Hip Hop não é música!
Diferentemente do que diz Ed Motta, o Hip Hop não é um ritmo musical: é uma cultura negra que soma 50 anos (meio século), que inclui em seu tripè de formação elementos como o break (dança), o grafite (artes plásticas) e o conhecimento.
Dizer que não gosta do Hip Hop [como gênero musical] seria dizer que não gosta de rap. Mas… Na prática: a frase não faz sentido.
Dica [importante] para Ed Motta e todos que desejam saber mais sobre um dos movimentos culturais mais importantes da cultura negra…
É fundamental mergulhar na leitura de obras como "Can't Stop Won't Stop: A History of the Hip-Hop Generation", de Jeff Chang.
Pagode não é um gênero musical!
O mesmo fenômeno que se deu com o Hip Hop… Também aconteceu com o Pagode! Na teoria, o ritmo [o pagode] não existe. Ou melhor: nunca existiu!
Pagode é uma reunião de sambistas, uma celebração que tem o samba como principal ritmo musical. Se a música eletrônica é o ritmo das raves/festas eletrônicas, o samba é o ritmo tocado nos pagodes.
Como gênero musical, o pagode é um subgênero (filho) do samba. Turbinado pelas vendagens, o pagode “ganhou” vida nos anos 1980, com a “primeira onda” do ritmo — capitaneada por grandes sambistas como Almir Guineto e Zeca Pagodinho e o grupo Fundo de Quintal.
Na década seguinte, o “ritmo” ganhou de vez a mídia brasileira com a exploão do Pagode 90 [e o suceso de grupos como Negritude Jr., Sensação, Katinguelê e Molejo]. E, a partir daí… O pagode “virou” um gênero musical.
Leia "O Mistério do Samba", de Hermano Vianna.
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O episódio Os Heróis do Peruche”, da série especial “Escola de Samba e Resistência Negra no Regime Militar” — do Seis e Um Podcast — será apresentado na exposição “Sobre Nós”, idealizada em comemoração aos 15 anos do Instituto Vladimir Herzog.
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Na sexta (21/6), o Instituto Tebas vai celebrar os 194 anos de nascimento de Luiz Gama com caminhada (Largo do Arouche) e exibição de vídeo em São Paulo.
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Com apenas 14 anos de idade, Victória Barros é considerada a nova aposta do tênis brasileiro.
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O que estamos lendo, ouvindo e dando likes
Música » Normani | “Dopamine” — Cinco anos após seu debut solo, Normani (ex-integrante do Fifth Harmony) finalmente lança seu aguardado álbum de estreia."
Dopamine"reúne 13 faixas inéditas, e traz colaborações de destaque — incluindo "1:59" com Gunna, famoso pelo hit fukumean, e "Wild Side" com Cardi B. O álbum também conta com "Candy Paint" e uma nova parceria com Brandy [The Boy Is Mine].